"Portugal em Paris" de Manuel Alegre (1967)

Solitário
por entre a gente eu vi o meu país.
Era um perfil
de sal
e abril.
Era um puro país azul e proletário.
Anónimo passava. E era Portugal
que passava por entre a gente e solitário
nas ruas de Paris.

Vi minha pátria derramada
na Gare de Austerlitz. Eram cestos
e cestos pelo chão. Pedaços
do meu país.
Restos.
Braços.
Minha pátria sem nada
sem nada
despejada nas ruas de Paris.

E o trigo?
E o mar?
Foi a terra que não te quis
ou alguém que roubou as flores de abril?
Solitário por entre a gente caminhei contigo
os olhos longe como o trigo e o mar.
Éramos cem duzentos mil?
E caminhávamos. Braços e mãos para alugar
meu Portugal nas ruas de Paris.

in O canto e as armas, D. Quixote, 2017, pp. 73-74.

  •  tradução do poema para francês

Solitaire
parmi la foule j’ai vu mon pays.
C’était une silhouette
de sel
et d’Avril.
C’était un pays bleu, pur et prolétaire.
Un anonyme passait. Et c’était le Portugal
qui passait parmi la foule, solitaire
dans les rues de Paris.

J’ai vu ma patrie se répandre
dans la Gare d’Austerlitz. En tas de paniers
sur le sol. Des morceaux
de mon pays.
Des restes.
Des bras.
Ma patrie sans rien
sans rien
déversée dans les rues de Paris.

Et le blé ?
Et la mer ?
Est-ce la terre qui n’a pas voulu de toi
ou quelqu’un qui a volé les fleurs d’Avril
Solitaire parmi la foule j’ai marché avec toi,
Le regard au loin comme les blés et la mer.
Étions-nous cent, deux-cent mille ?
Et nous marchions. Des bras et des mains pour louer
mon Portugal dans les rues de Paris.

***


a)      Pesquisar sobre a obra com vista a uma apresentação

“Portugal em Paris” é um poema, excerto do livro O Canto e as Armas, publicado em 1967, no tempo do EStado Novo. O sujeito poético está em Paris e vê num indivíduo que passa a sua pátria. O que desperta nele várias  emoções.

b)     Justificação do título

     O poema intitula-se “Portugal em Paris” pois o sujeito lírico está “vendo” em Paris, através dum indivíduo, o seu Portugal, numa altura em que se vivia uma vaga enorme de emigração portuguesa na capital francesa.

c)      Identificação da mensagem que o autor pretende veicular
Neste poema sentimos a enorme saudade do sujeito lírico pelo seu país de origem, Portugal. Algo que se sente em muitos emigrantes relativamente ao seu país de origem.

d)     Identificação das características da emigração portuguesa 

     A emigração portuguesa, no momento testemunhado pelo sujeito lírico, é uma emigração massiva, “duzentos mil”, porém o sujeito lírico sente-se só, tal como os emigrantes portugueses que chegam a Paris, estão solitários "nas ruas de Paris”: é uma emigração que foi despejada do seu país, pelo Estado Novo, para vir trabalhar em França.

e)      Identificação da atualidade da mensagem
     Hoje a comunidade portuguesa residente em França ainda é grande (1,5 m de portugueses), e existe para qualquer pessoa que não viva no seu país de origem um sentimento de falta em relação à região donde vem. Isso é válido para qualquer comunidade emigrante.
   
f)       Esquematização das ideias da obra

g)      Escolher uma imagem caracterizadora da obra, da sua mensagem, da emigração
https://www.youtube.com/watch?v=TdG0uOxVdOs - a 07:46 do vídeo. Consultado a 27/05/2019
h)     Elaborar 2 questões sobre a obra, baseadas no conteúdo do cartaz 

1- O sujeito poético sente saudades do seu país quando vê o anónimo passar?
2- O anónimo não representa nada para o sujeito poético?
 BL & GC & LAF

Sem comentários:

Enviar um comentário