I
Como Ulisses
te busco e desespero
como Ulisses confio e desconfio
e como para o mar se vai um rio
para ti vou. Só não me canta Homero.
Mas como Ulisses passo mil perigos
escuto a sereia e a custo me sustenho
e embora tenha tudo nada tenho
que em te não tendo tudo são castigos.
Só não me canta Homero. Mas como U-
lisses vou com meu canto como um barco
ouvindo o teu chamar - Pátria Sereia
Penélope que não te rendes - tu
que esperas a tecer um tempo ideia
que de novo o teu povo empunhe o arco
como Ulisses por ti nesta odisseia.
como Ulisses confio e desconfio
e como para o mar se vai um rio
para ti vou. Só não me canta Homero.
Mas como Ulisses passo mil perigos
escuto a sereia e a custo me sustenho
e embora tenha tudo nada tenho
que em te não tendo tudo são castigos.
Só não me canta Homero. Mas como U-
lisses vou com meu canto como um barco
ouvindo o teu chamar - Pátria Sereia
Penélope que não te rendes - tu
que esperas a tecer um tempo ideia
que de novo o teu povo empunhe o arco
como Ulisses por ti nesta odisseia.
II
Onde estarás
Penélope que já
não sei se
esperas já não sei se teces
um tapete e
grinaldas? Oxalá
o amor não
esqueças se de mim te esqueces.
Oxalá seja a
tua voz que escuto
nesta voz
que não sei se é de sereias
se é tua voz
cantando-me nas veias
amor tornado
ideia por que luto.
Porque todo
o poema é como um barco
em que
Ulisses por ti sou marinheiro.
Oxalá seja
ainda o mais certeiro
quando
Ulisses por ti empunhe o arco
Penélope que
bordas de saudade
este amor que
me prende. E é liberdade.
in O
canto e as armas, D. Quixote, 2017, pp. 81-84.
- tradução do poema para francês
I
Comme Ulysse, je te cherche et désespère
comme Ulysse, j'ai confiance et je me méfie
et comme vers la mer coule un fleuve
vers toi je vais. Il y a juste Homère qui ne me chante
pas.
Mais comme Ulysse je traverse mil dangers
j'écoute la sirène et à tout prix je me retiens
et même si j’ai tout je n'ai rien
car en ne pas te possédant tout est punition.
Il y a juste Homère qui ne me chante pas. Mais comme
U-
lysse je vais avec mon chant tel un bateau
en écoutant ton appel - Patrie Sirène
Pénélope que tu ne te rends pas - toi
qui attend à tisser un temps idée
qu’à nouveau ton peuple manie l'arc
comme Ulysse pour toi dans cet odyssée
II
Où es-tu Pénélope que déjà
je ne sais pas si tu
attends je ne sais pas si tu tisses
un tapis et des guirlandes
? Si dieu le veut
l'amour n'oublie pas si tu
m'oublies.
Si dieu le veut que
soit ta voix celle que j'écoute
dans cette voix dont je ne
sais pas si elle est celle des sirènes
si c'est ta voix qui me
chante dans les veines
l'amour devenu idée pour
laquelle je me bats.
Parce que tout le poème
est comme un bateau
où pour toi Ulysse je suis
marin.
Si dieu le veut que se
soit encore le plus juste
quand Ulysse pour toi je
manie l'arc
Pénélope qui brode avec la
nostalgie
cet amour qui m’attache.
Et est liberté.
***
Justificação do título
O título Dois sonetos
de amor a Ulisses refere-se a dois poemas que fazem intertextualidade com o
Ulisses e a Penélope da Antiguidade Clássica. Ulisses navegou durante dez anos
até reencontrar a sua mulher Penélope, em Ítaca. Tal como ele o sujeito poético
está em busca da sua amada que é Portugal. O sujeito poético está longe da sua
pátria, não por vontade própria, mas porque a vida de exilado a isso o obrigou.
Há um paralelismo entre as duas histórias, daí a aproximação que começa no
título e se desenvolve nos dois sonetos, uma forma de contornar a censura da
ditadura do Estado Novo.
Identificação da mensagem que o autor pretende
veicular
O autor, através este
poema, quer denunciar a emigração forçada dos portugueses exilados por motivos
políticos da época ditatorial.
Identificação das características da emigração
portuguesa
Este poema evoca as dificuldades vividas pelos exilados políticos portugueses "empurrados para a emigração" pelo Estado Novo. É uma emigração forçada que luta para regressar a Portugal - " Mas como U- / lisses vou com meu canto como um barco / ouvindo o teu chamar - Pátria Sereia / Penélope que não te rendes - tu" - apesar das dificuldades que tem de enfrentar - "Mas como Ulisses passo mil perigos".
Este poema evoca as dificuldades vividas pelos exilados políticos portugueses "empurrados para a emigração" pelo Estado Novo. É uma emigração forçada que luta para regressar a Portugal - " Mas como U- / lisses vou com meu canto como um barco / ouvindo o teu chamar - Pátria Sereia / Penélope que não te rendes - tu" - apesar das dificuldades que tem de enfrentar - "Mas como Ulisses passo mil perigos".
Identificação da atualidade da mensagem
Hoje vive-se em Portugal em democracia, já não se vive sob a ditadura fascista do século XX e por isso o poema perdeu a sua atualidade relativamente à emigração portuguesa que hoje, no século XXI, é essencialmente económica e intelectual. Dito isto, ainda há, no mundo, emigração política com características semelhantes à que está descrita pelo eu lírico neste poema. Desse ponto de vista, o poema não perdeu atualidade.
Hoje vive-se em Portugal em democracia, já não se vive sob a ditadura fascista do século XX e por isso o poema perdeu a sua atualidade relativamente à emigração portuguesa que hoje, no século XXI, é essencialmente económica e intelectual. Dito isto, ainda há, no mundo, emigração política com características semelhantes à que está descrita pelo eu lírico neste poema. Desse ponto de vista, o poema não perdeu atualidade.
g) Escolher uma imagem caracterizadora da obra, da
sua mensagem, da emigração
h) Elaborar 2 questões sobre
a obra, baseadas no conteúdo do carta
1- O sujeito poético compara-se a Ulisses?2- O sujeito poético procura a liberdade?
HA & MP
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