Éramos vinte ou trinta nas margens do Sena.
E os olhos iam com as águas.
Procuravam o Tejo nas águas do Sena
procuravam salgueiros nas margens do vento
e esse pais de lágrimas e aldeias
pousadas nas colinas do crepúsculo.
Procuravam o mar.
Éramos vinte ou trinta nas margens do Sena
sentados
ausentes.
E havia uma rua. Havia uma casa.
Havia um cesto de cerejas sobre a mesa.
Havia um puro cheiro a pão. Uma varanda
e roupa branca a secar.
Havia uma Pátria
E havia tecedeiras subterrâneas
tecendo em Coimbra a primavera.
Havia o Ant6nio e uma guitarra
incendiada nos seus dedos.
E a minha irmã morava nesse ritmo.
A minha mãe bordava. (Às vezes creio que lembrava.)
Meu pai - esse partia extasiado
para o país da música. Havia uma avó
procurando sentir o que eu sentia.
Havia uma casa.
Havia uma Pátria.
Éramos vinte ou trinta nas margens do Sena
onde o vento cantava
uma canção estrangeira.
E os olhos iam com as águas.
in O canto e as armas, D. Quixote, 2017, pp. 75-76.
2- O sujeito lírico é o único a sentir saudades de Portugal?
E os olhos iam com as águas.
Procuravam o Tejo nas águas do Sena
procuravam salgueiros nas margens do vento
e esse pais de lágrimas e aldeias
pousadas nas colinas do crepúsculo.
Procuravam o mar.
Éramos vinte ou trinta nas margens do Sena
sentados
ausentes.
E havia uma rua. Havia uma casa.
Havia um cesto de cerejas sobre a mesa.
Havia um puro cheiro a pão. Uma varanda
e roupa branca a secar.
Havia uma Pátria
E havia tecedeiras subterrâneas
tecendo em Coimbra a primavera.
Havia o Ant6nio e uma guitarra
incendiada nos seus dedos.
E a minha irmã morava nesse ritmo.
A minha mãe bordava. (Às vezes creio que lembrava.)
Meu pai - esse partia extasiado
para o país da música. Havia uma avó
procurando sentir o que eu sentia.
Havia uma casa.
Havia uma Pátria.
Éramos vinte ou trinta nas margens do Sena
onde o vento cantava
uma canção estrangeira.
E os olhos iam com as águas.
in O canto e as armas, D. Quixote, 2017, pp. 75-76.
- tradução do poema para francês
On était vingt ou
trente sur les bords de la Seine.
Et nos yeux
suivaient les eaux.
Ils cherchaient le Tage dans les eaux de la
Seine
ils cherchaient les
saules sur les bords du vent
et ce pays de pleurs et de villages
posés sur les
collines du crépuscule.
Ils cherchaient la
mer.
On était vingt ou trente sur les bords de la
Seine
assis
absents.
Il y avait une rue. Il y avait une maison.
Il y avait un panier de cerises sur la table.
Il y avait l'odeur pure du pain. Un balcon
et du linge blanc en train de sécher.
Il y avait une Patrie.
Et il y avait des tisseuses souterraines
tissant à Coimbra le printemps.
Il y avait Antoine et une guitare
incendiée entre ses doigts.
Et ma sœur habitait dans ce rythme.
Ma mère brodait. (Des fois je crois m'en rappeler.)
Mon père – celui-là partait extasié
vers le pays de la musique. Il y avait une grand-mère
cherchant sentir ce que je sentais.
Il y avait une maison.
Il y avait une Patrie.
On était vingt ou
trente sur les bords de la Seine
où le vent chantait
une chanson
étrangère.
Et nos yeux
suivaient avec les eaux.
Justificação do título
O
título Exílio refere o próprio exílio do eu lírico que está em França,
nas margens do rio Sena. O eu lírico não está só, “Éramos vinte ou trinta”, e
acaba por ser o porta-voz de um grupo de exilados portugueses – “Procuravam o
Tejo nas águas do Sena” – cujas famílias deixaram em Portugal. O sofrimento
causado pela situação do exílio político (fuga ao fascismo para a qual remete a
data do poema e a censura de que foi vítima) percorre o poema daí o título
deste.
Identificação da mensagem que o autor pretende
veicular
O autor testemunha o sofrimento vivido pelos exilados políticos em França antes do 25 de Abril, um sofrimento causado pela distância do país e das famílias.
Identificação das características da emigração
portuguesa
A característica da emigração destacada neste poema é a que diz respeito ao combate político: porque alguns portugueses não estavam de acordo com a ditadura fascista, diziam o que pensavam. Assim, para fugir à tortura e à prisão certas exilavam-se no estrangeiro. A emigração não tem origem em problemas económicos mas sim políticos.
A característica da emigração destacada neste poema é a que diz respeito ao combate político: porque alguns portugueses não estavam de acordo com a ditadura fascista, diziam o que pensavam. Assim, para fugir à tortura e à prisão certas exilavam-se no estrangeiro. A emigração não tem origem em problemas económicos mas sim políticos.
Identificação da atualidade da mensagem
Hoje vive-se em Portugal em democracia, já não se vive sob a ditadura fascista do século XX e por isso o poema perdeu a sua atualidade relativamente à emigração portuguesa que hoje, no século XXI, é essencialmente económica e intelectual. Dito isto, ainda há, no mundo, emigração política com características semelhantes à que está descrita pelo eu lírico neste poema. Desse ponto de vista, o poema não perdeu atualidade.
Hoje vive-se em Portugal em democracia, já não se vive sob a ditadura fascista do século XX e por isso o poema perdeu a sua atualidade relativamente à emigração portuguesa que hoje, no século XXI, é essencialmente económica e intelectual. Dito isto, ainda há, no mundo, emigração política com características semelhantes à que está descrita pelo eu lírico neste poema. Desse ponto de vista, o poema não perdeu atualidade.
Esquematização das ideias da obra
Escolher uma imagem caracterizadora da obra, da
sua mensagem, da emigração
Elaborar 2 questões sobre
a obra, baseadas no conteúdo do cartaz
1- O Portugal fascista empurra as pessoas para a emigração?2- O sujeito lírico é o único a sentir saudades de Portugal?
SF & TDJ
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