"Pátria Expatriada" de Manuel Alegre (1967)


PÁTRIA EXPATRIADA


Procuras Portugal em Portugal
e não o encontras e não o vês
lá onde o mal
se afina e o bem se dana e Portugal
já não é português.

Procuras Portugal e andas com ele
nos mil destinos do teu destino.
Dói-me na pele.
Babilónia Sião Paris Babel
meu povo peregrino.

Seja Babel a Torre Eiffel. Paris
a Babilónia. Sempre Sião
é uma raiz
que dói. Meu Portugal: pátria sem pão
de país em país.

Em chão estrangeiro a dor por ministério.
Pátria exportada: Império novo
ou cemitério?
Império da miséria o quinto império.
E o estrangeiro é meu povo.

Cá junto deste rio onde Crisfal
mesmo sem Joana perdida a avena
eu digo a pena
de Portugal o Sena passa mas o mal
não passa com o Sena.

Canta dentro de mim pátria exilada
com tua fome com teu cansaço
e revoltada
descalça em minha voz nua em meu braço
meu canto minha espada.

E vem com tuas mãos com teu lamento.
E vem com tua dor. Despenteia-
-me assim por dentro
do canto onde tu passas como um vento
que passa e que incendeia.

Povo que foste ao mar onde colheste
teu fruto amargo: pátria de sal.
E o mal é este:
procuras pelo mundo o Portugal
que em Portugal perdeste.

Canta dentro de mim descalça e nua
conta-me tudo quanto te fere. E a
dor da Ibéria
ceifa-a ceifando o pão da lua
que é o pão da miséria.

Abre dentro de mim a longa estrada.
Teu coração navio ou asa
teu braço o arado tua mão a espada
vamos: é tempo de voltar a casa.

Porque tiveste o mar nada tiveste.
A tua glória foi teu mal.
Não te percas buscando o que perdeste :
procura  Portugal em Portugal.



in O canto e as armas, D. Quixote, 2017, pp. 77-79.

  •  tradução do poema para francês


PATRIE EXPATRIÉE

Tu cherches Portugal en Portugal
et tu ne le trouves pas et tu ne le vois pas
là ou le mal
s’affine et le bien se « dana » et Portugal
n’est déjà plus portugais.

Tu cherches Portugal et tu marches avec lui
dans les milles destinations de ton destin.
Tu as mal dans ta peau
« Babilónia Sião Paris Babel»
mon peuple pèlerin.

Que se soit Babel la Tour Eiffel. Paris
la Babylone. Toujours « Sião »
est une racine
qui fait mal. Mon Portugal : patrie sans pain
de pays en pays.

En terre étrangère la douleur pour ministère.
Patrie exportée : Empire nouveau
ou cimetière ?
Empire de la misère le cinquième empire.
Et l’étranger est mon peuple.

Ici proche de ce fleuve où « Crisfal »
même sans Joana qui à perdue la foi
je dis la pauvre
de Portugal la Seine passe mais le mal
ne passe pas avec la Seine.

Chante en moi patrie exilée
avec ta faim avec ta fatigue
et révolte
pieds nu en ma voix nue en mon bras
mon chant mon épée.

Et viens avec tes mains avec tes lamentations.
Et viens avec ta douleur. Décoiffe-
-moi comme a l’intérieur
du coin où tu passes comme le vent
qui passe et qui incendie.

Peuple qui alla en mer où tu as cueilli
ton fruit amer : patrie de sel.
Et le mal est celui que :
tu cherches dans le monde le Portugal
que en Portugal tu as perdu.

Chante en moi pied nu et nue
Raconte-moi tout qui te blesse. Et la
douleur de l’Ibérie
fauche-là faucheuse le pain bleu de lune
qui est le pain de la misère.

Ouvre en moi la longue route.
Ton cœur navigue ou aile
ton bras attaché et ta main à l’épée
qui va : il est temps de revenir à la maison.

Parce que tu avais la mer tu n’as rien eu.
Ta gloire fut ton malheur.
Ne te perds pas en cherchant ce que tu as perdu :
cherche Portugal en Portugal



      Justificação do título

           O título “Pátria expatriada” evoca o tema da emigração portuguesa e do exílio de portugueses para fugir ao regime salazarista. O facto de dizer pátria expatriada cria uma antítese: os portugueses que emigraram, criaram um Portugal fora do país.

        Identificação da mensagem que o autor pretende veicular
    Neste poema o sujeito lírico reflete sobre o facto de Portugal ter ficado irreconhecível, durante o regime salazarista, pela miséria em que as pessoas viviam, uma miséria que levou muitos portugueses a deixarem Portugal e a reencontrarem-se no estrangeiro.

       Identificação das características da emigração portuguesa 
     Neste poema surgem características da emigração portuguesa visíveis nas citações que se seguem: “ Em chão estrangeiro a dor por ministério”; “Pátria exportada”; “estrangeiro é meu povo”; “pátria exilada”. Estas citações comprovam a emigração do povo português que tem de deixar o seu país sofrendo por ser obrigada a partir. 

 Identificação da atualidade da mensagem
    Na atualidade a mensagem do poema é ainda visível, pois existem muitos emigrantes portugueses pelo mundo fora mesmo após o fim da ditadura salazarista, o que mostra que a emigração continua.  
             Esquematização das ideias da obra

  Escolher uma imagem caracterizadora da obra, da sua mensagem, da emigração
https://portugalmag.fr/wp-content/uploads/2018/05/Emigrantes-Portugueses.jpg, 22:38, 27-5-2019.

    Elaborar 2 questões sobre a obra, baseadas no conteúda do cartaz 



AR & BP

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