Vão-se os homens desta terra.
Aqui fumavam seu tabaco
aqui esperavam desesperavam
aqui bebiam seu vinho
tinham suas mulheres. Batiam-lhes. Amavam-nas
com o corpo mais que com palavras
com ternura com raiva
que são assim os homens desta terra:
tão fundo é o seu amor que com amor magoam.
Aqui plantavam hortas vinhas fábricas.
Alguns fizeram filhos. Outros amaram suas cabras
entre pedras e noite.
Alguns nunca colheram
aquela que cheirava
a flor de laranjeira.
Para que a terra fosse verde
as mãos envelheceram:
ficaram da cor da terra
ficaram da cor do vento.
Aqui moravam.
Fluíam no fluir das estações.
Com seus arados lavravam
ternamente ferozmente
assim como quem ama
assim como quem morre
Gota a gota espiga a espiga.
Aqui plantavam esperavam
chuva a chuva sol a sol.
E em cada espiga floriam
as mãos dos homens.
E as mãos dos homens ficavam
cada vez mais cheias
de nada.
Aqui viviam morriam. Tinham suas mulheres
suas tabernas seus adros
seus ódios e seus amores.
Aqui às vezes matavam.
Por uma vaca. Uma galinha. Água. Desespero.
Por uma coisa de nada:
às vezes por uma vaca
às vezes por uma rosa.
Vieram primeiro da montanha e da planície
partiram para dentro das cidades.
E as cidades cresceram.
Em Lisboa morreram caravelas.
Pedra a pedra floriu Lisboa
com suas casas e avenidas.
E as mãos dos homens foram fábricas sabão cimento.
As mãos dos homens produziram capitais.
Circularam morreram floriram.
Foram fechadas em grandes cofres. Investidas.
Exportadas.
E o Tejo encheu-se de navios.
E os navios levavam as mãos dos homens.
E as mãos dos homens ficavam
cada vez mais cheias
de nada.
Vão-se os homens desta terra.
Ficam cabras sem pastores
ficam terras sem seus donos.
Fica no ar um soluço
na parede uma guitarra.
Às vezes uma espingarda.
E nas mãos das mulheres
Ficam sombras sombras sombras
Às vezes uma rosa.
Às vezes coisas nenhuma.
Vão-se os homens desta terra.
Já suas mãos foram vinhas
foram cidades navios.
Domaram corpos morenos
às vezes umas guitarras
às vezes eram navalhas.
Plantaram filhos batatas
por cada espiga sangraram
ficaram por cada espiga
às vezes da cor da terra
às vezes da cor do vento.
E de tudo o que plantaram
as mãos dos homens colheram
sombras sombras sombras
Às vezes uma rosa.
Às vezes coisas nenhuma.
E as mãos dos homens ficavam
cada vez mais cheias
de nada.
E a minha pátria ficava
cada vez mais cheia
de sombras.
Vão-se os homens desta terra.
Já não tinham que perder
já não tinham que deixar.
Ficam sombras sombras sombras.
in O canto e as armas, D. Quixote, 2017, p. 57-60.
- tradução do poema para francês
Ils
s’en vont les hommes de cette terre.
Ici
ils fumaient leur tabac
ici
ils
espéraient désespéraient
ici
ils
buvaient leur vin
ils
avaient
leurs femmes. Ils les battaient. Ils les aimaient
avec
le
corps plus qu’avec
les
mots
avec
tendresse
avec colère
ainsi
sont
les hommes de cette terre :
si
profond
est
leur amour
qu’ils leurs font
du mal avec l’amour.
Ici
ils plantaient des jardins
vignes usines.
Certains
ont fait
des enfants.
D’autres
ont aimé leurs chèvres
entre
pierres
et nuit.
Certains
n’ont
jamais
cueillis
celle
qui
sentait
la
fleur
d’oranger
Pour
que la terre fut
verte
les
mains
ont
vieilli :
elles
restèrent de la
couleur de la terre
elles
restèrent de la
couleur du vent.
Ici
ils
vivaient.
Ils
coulaient dans
les saisons.
Avec
leurs charrues ils labouraient
tendrement
et
farouchement
ainsi
comme
celui
qui aime
ainsi
comme
celui
qui meurt
goute
à
goute épi à épi.
Ici
ils cultivaient espéraient
Pluie
à pluie soleil
à
soleil
Et
dans
chaque épis fleurissaient
les
mains
des hommes.
Et
les mains des hommes étaient
de
plus
en plus pleines
de
rien.
Ici
ils vivaient
mouraient.
Ils avaient leurs femmes
leurs
tavernes
et leurs parvis
leurs
haines
et leurs amours.
Ici
parfois ils tuaient.
Pour
une vache. Une poule. De l’eau. Désespoir.
Pour
un petit
rien :
parfois
pour
une vache
parfois
pour
une rose.
Ils
venaient d’abord des montagnes et des plaines
ils
sont partis vers les villes.
Et
les villes ont
grandis.
À
Lisbonne des caravelles sont
mortes.
De
pierre
en
pierre
Lisbonne
a
fleuri
Avec
ses
maisons
et ses
avenues.
Et
les mains
des hommes furent usines
savon ciment.
Les
mains des hommes ont
créé des capitaux.
Elles
ont circulé, elles sont mortes elles ont fleuri.
Elles
ont été fermées dans de grands
coffres. Investies.
Exportées.
Et
le Tage a été
rempli de
navires.
Et
les navires ont
emporté les mains
des hommes.
Et
les
mains des hommes étaient
de
plus
en plus pleines
de
rien.
Ils
s’en vont les hommes de cette terre.
Il
reste des
chèvres sans bergers
il
reste des
terres sans propriétaire.
Il
reste dans l’air
un
sanglot
sur
le
mur
une
guitare
Parfois
une arme à feu.
Et
dans les mains des femmes
il
reste
des
ombres ombres
ombres
Parfois
une rose.
Parfois
rien.
Ils
s’en vont les hommes de cette terre.
Déjà
leurs mains ont
été des vignes
ont
été des villes
navires.
Ils
ont apprivoisé des corps
bronzés
parfois
des
guitares
parfois
des
couteaux de poche.
Ils
ont
cultivé des fils pommes de terre
pour
chaque
épis ils ont
saigné
ils
sont restés pour chaque
épis
parfois
de la
couleur de la terre
parfois
de la couleur du vent.
Et
pour tout ce qu’ils ont cultivé
les
mains des hommes ont cueilli
Ombres
ombres
ombres
Parfois
une rose.
Parfois
rien
du tout.
Et
les mains des hommes étaient
de
plus
en plus pleines
de
rien.
Et
ma patrie était
encore
plus
pleine
d’ombres
Ils
s’en vont les hommes de cette terre.
Ils
n’avaient plus rien à perdre
plus
rien
à laisser
Il
reste des
ombres
ombres
ombres.
Justificação do título
O sujeito lírico descreve os momentos migratórios do seu povo ao longo dos tempos. Primeiro deixou-se o campo pela cidade, por vezes embarcou-se em caravelas, outras vezes trabalhou-se na indústria em torno das cidades. A vida dessas gentes foi sempre marcada pela dureza e pelo sofrimento, físico e humano. São sempre vidas que nada tinham a perder porque nada possuíam. Hoje o país do sujeito lírico está vazio, cheio de sombras.
Identificação da mensagem que o autor pretende veicular
O autor leva-nos a refletir sobre o sofrimento que está atrás da emigração do seu povo que vai desertando o seu país.
Identificação das características da emigração portuguesa
Identificação da mensagem que o autor pretende veicular
O autor leva-nos a refletir sobre o sofrimento que está atrás da emigração do seu povo que vai desertando o seu país.
Identificação das características da emigração portuguesa
A emigração portuguesa que surge referida neste texto está marcada pelo trabalho duro e sofrido. Emigra-se porque se vive mal economicamente no seu país.
Identificação da atualidade da mensagem
Identificação da atualidade da mensagem
Ainda hoje há portugueses que emigram para melhorar as suas condições de vida que pioraram com a crise de 2008 e o aumento do desemprego.
Esquematização das ideias da obra
Esquematização das ideias da obra
g) Escolher uma imagem caracterizadora da obra, da
sua mensagem, da emigração
h) Elaborar 2 questões sobre
a obra, baseadas no conteúdo do carta
1- Os emigrantes portugueses partem com um contrato de trabalho?
2- Em Portugal os emigrantes deixam os seus bens?
1- Os emigrantes portugueses partem com um contrato de trabalho?
2- Em Portugal os emigrantes deixam os seus bens?
MT & VG
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