Não sei se as pedras andam.
Mas o meu país é pedra
e anda. Desloca-se. Foge
Pula ribeiros nas pernas
do povo. Salta fronteiras
nas minhas pernas. Rasteja.
Nada. Esconde-se. Atravessa
montanhas. Desaparece.
Disfarça-se. O meu país
deixou de ser país. É
qualquer coisa que caminha.
Que se procura. Saudade
de ser Pátria. País em
movimento. País sem
chão. Assim cortado
pela raiz o meu país
é feito de dois países:
um é dono o outro não.
Fica o dono e vai-se o outro.
O que se fica tem tudo
o que se vai nada tem:
nem terra para ficar
nem licença para ir.
O meu país não é dono.
Não tem licença de nada.
País clandestino. Pedra
ambulante. Chão que sangra.
Que caminha. Pula
ribeiros. Corre. Derrama-se.
E vai-se com ele a força
a guitarra a pena a foice.
Vai-se o canto. Vão-se as armas.
in O canto e as armas, D. Quixote, 2017, pp. 55-56.
Mas o meu país é pedra
e anda. Desloca-se. Foge
Pula ribeiros nas pernas
do povo. Salta fronteiras
nas minhas pernas. Rasteja.
Nada. Esconde-se. Atravessa
montanhas. Desaparece.
Disfarça-se. O meu país
deixou de ser país. É
qualquer coisa que caminha.
Que se procura. Saudade
de ser Pátria. País em
movimento. País sem
chão. Assim cortado
pela raiz o meu país
é feito de dois países:
um é dono o outro não.
Fica o dono e vai-se o outro.
O que se fica tem tudo
o que se vai nada tem:
nem terra para ficar
nem licença para ir.
O meu país não é dono.
Não tem licença de nada.
País clandestino. Pedra
ambulante. Chão que sangra.
Que caminha. Pula
ribeiros. Corre. Derrama-se.
E vai-se com ele a força
a guitarra a pena a foice.
Vai-se o canto. Vão-se as armas.
in O canto e as armas, D. Quixote, 2017, pp. 55-56.
- tradução do poema para francês
Je ne sais pas si les
pierres marchent.
Mais mon pays est
une pierre
et marche. Se déplace. Fuit.
Saute des ruisseaux sur les jambes
du peuple. Saute des frontières
sur mes jambes.
Rampe.
Rien. Se cache. Traverse
des montagnes. Disparait.
Se déguise. Mon pays
a arrêté d’être un
pays. C’est
quelque chose qui marche.
Qui se cherche. La nostalgie
d’être Patrie. Pays en
mouvement. Pays sans
sol. Ainsi coupé
par la racine mon pays
est fait de deux pays :
l’un est propriétaire et
l’autre ne l’est pas.
Le propriétaire
reste et l’autre s’en va.
Celui qui reste a
tout
celui qui s’en va n’a
rien:
ni terre pour rester
ni permission pour partir.
Mon pays n’est pas
propriétaire.
Il n’a aucune permission.
Pays clandestin. Pierre
ambulante. Sol qui saigne.
Qui marche. Saute
de s rivières. Coure.
Se renverse.
Et il emporte avec
lui la force,
a guitare, la plume et la faux.
Le chant s’en va.
Les armes s’en vont.
***
Justificação do título
A poesia de intervenção do poeta, deste sujeito lírico, é referida metaforicamente como canto e como "armas": como canto porque a poesia pela forma como está escrita aproxima-se da música; como armas porque a poesia de intervenção pretende nitidamente lutar contra os donos que ficam no país (os ditadores) e alertar para o facto de haver muitos 'não donos do país' que deixam este.
A poesia de intervenção do poeta, deste sujeito lírico, é referida metaforicamente como canto e como "armas": como canto porque a poesia pela forma como está escrita aproxima-se da música; como armas porque a poesia de intervenção pretende nitidamente lutar contra os donos que ficam no país (os ditadores) e alertar para o facto de haver muitos 'não donos do país' que deixam este.
Identificação da mensagem que o autor pretende
veicular
Identificação das características da emigração portuguesa
Identificação da atualidade da mensagem
A mensagem do poema não perdeu atualidade na medida em que continua a haver emigração com destino a França com origem em países que vivem situações políticas parecidas com a que se viveu em Portugal. Relativamente a Portugal, a ditadura fascista desapareceu, mas hoje volta a haver problemas económicos que levam à emigração para França.
Esquematização das ideias da obra
Escolher uma imagem caracterizadora da obra, da sua mensagem, da emigração
h) Elaborar 2 questões sobre a obra baseadas no conteúdo do cartaz
1- O sujeito lírico considera que o seu país está dividido em dois grupos de pessoas?
2- O país referido no poema é personificado?
Este poema mostra na sua mensagem que este país não é só uma terra, mas é um ser vivo muitos dos que moram nele tiveram que emigrar clandestinamente porque nada tinham de seu, viviam pobremente, contrariamente ao outro grupo de pessoas no poder, os "donos". O sujeito lírico denuncia essa situação desequilibrada.
Identificação das características da emigração portuguesa
A emigração portuguesa para França caracterizou-se, no
século passado, pelas viagens feitas em situações complicadas, dentro da
ilegalidade (deviam esconder-se da polícia, vinham carregados, as viagens
faziam-se à noite em condições difíceis – viajava-se com os passadores
apertados em barcos ou em camiões). Essa emigração portuguesa para
França foi causada pela ditadura salazarista que durou quase quarenta
anos. Muitos portugueses viram a França como uma tábua de salvação económica. Tudo
isso se percebe neste poema de Manuel Alegre.
Identificação da atualidade da mensagem
A mensagem do poema não perdeu atualidade na medida em que continua a haver emigração com destino a França com origem em países que vivem situações políticas parecidas com a que se viveu em Portugal. Relativamente a Portugal, a ditadura fascista desapareceu, mas hoje volta a haver problemas económicos que levam à emigração para França.
Esquematização das ideias da obra
Escolher uma imagem caracterizadora da obra, da sua mensagem, da emigração
![]() |
https://s5.postimg.cc/xe0sdtjtz/ribeira-da-Isna-Charco-Serta.jpg, 10:12, 10-6-2019. |
h) Elaborar 2 questões sobre a obra baseadas no conteúdo do cartaz
2- O país referido no poema é personificado?
FC & VF
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