Nem batalhas nem paz: obscura guerra. Dói-me um país neste país que levo. Sou este povo que a si mesmo se desterra meu nome são três sílabas de trevo. Há nevoeiro em mim. Dentro de abril dezembro. Quem nunca fui é um grito na memória. E há um naufrágio em mim se de quem fui me lembro há uma história por contar na minha história. Trago no rosto a marca do chicote. Cicatrizes as minha condecorações. Nas minhas mãos é que é verdade D. Quixote trago na boca um verso de Camões. Sou este camponês que foi ao mar lavrou as ondas e mondou a espuma e andou achando como a vindimar terra plantada sobre o vento e a bruma. Sou este marinheiro que ficou em terra lavrando a mágoa como se lavrar não fosse mais do que a perdida guerra entre o não ser na terra e o ser no mar. Eu que parti e que fiquei sempre presente eu que tudo mandava e nunca fui senhor eu que ficando estive sempre ausente eu que fui marinheiro sendo lavrador. Eu que fiz Portugal e que o perdi em cada porto onde plantei o meu sinal. Eu que fui descobrir e nunca descobri que o porto por achar ficava em Portugal. Eu que matei roubei eu que não minto se vos disser que fui pirata e ladrão. Eu que fui como Fernão Mendes Pinto o diabo e o deus da minha peregrinação. Eu que só tive restos e migalhas e vi cobiça onde diziam haver fé. Eu que reguei de sangue os campos das batalhas onde morria sem saber porquê. Eu que trago no corpo a marca do chicote eu que trago na boca um verso de Camões eu é que sou capaz de ser o D. Quixote que nunca mais confunda moinhos e ladrões. Eu que fiz tudo e nunca tive nada eu que trago nas mãos o meu país eu que sou esta árvore arrancada este lusíada sem pátria em Paris. in O canto e as armas, D. Quixote, 2017, pp. 85-87.
- tradução do poema para francês
LUSIADE EXILE
Ni batailles ni paix: guerre obscure.
J’ai mal au pays dans ce pays que j’emmène.
Je suis ce peuple qui se déterre soi-même
mon nom sont trois syllabes de trèfle.
Il y a du brouillard en moi. Dans Avril Décembre.
Celui que je n’ai jamais été est un cri de mémoire.
Et il y a un naufrage en moi si de celui que j’ai
été je me rappelle
il y a une histoire à raconter dans mon histoire.
J’ai sur le visage la trace du fouet.
Cicatrices mes souvenirs.
Dans mes mains est la vérité D. Quixote
j’ai dans la bouche un vers de Camões.
Je suis ce paysan qui est allé à la mer
a labouré les vagues et arraché la mousse
trouvant comment la récolter
terre plantée sur le vent et la brume.
Je suis ce marin qui est resté sur terre
labourant la peine comme si labourer
ne fût pas plus que la guerre perdue
entre le ne pas être sur terre et l’être sur la mer.
Moi qui suis parti et qui suis toujours resté
présent
moi qui commandait tout et qui n’ai jamais été
seigneur
moi qui resté j’ai toujours été absent
moi qui ait été marin en étant paysan.
Moi qui ait fait le Portugal et qui l’ait perdu
à chaque port où j’ai planté mon signal.
moi qui suis allé découvrir et n’ait jamais
découvert
que le port à trouver était au Portugal.
Moi qui ait tué volé moi qui ne mens pas
si je vous dit que j’ai été pirate et voleur
Moi qui ait été comme Fernão Mendes Pinto
le diable et le dieu de mon pèlerinage.
Moi qui n'ai eu que des restes et des miettes
et vu cupidité où on disait avoir de la foi.
Moi qui ai arrosé de sang les champs des batailles
où je mourrais sans savoir pourquoi.
Moi qui ai sur le corps la marque du fouet
moi qui ai dans la bouche un vers de Camões
moi qui suis capable d'être D. Quixote
que je ne confonde plus jamais moulins et voleurs.
Moi qui ai tout fait et n'a jamais rien eu
moi qui amène dans les mains mon pays
moi qui suis cet arbre arraché
ce lusíade sans patrie à Paris
***
b) Justificação do título
O poema intitula-se “Lusiada
Exilado”. Este nome define o estado do eu lírico e o que ele sente. Estando
longe do seu país, sente-se sozinho e isolado do seu povo. Isolamento que ele
mesmo quis e escolheu, mas por obrigação, visto que com a ditadura a dirigir
Portugal, teve de exilar-se no estrangeiro, (o poete teve de exilar-se na Argélia para
fugir à PIDE e este poema parece inspirar-se diretamente da vida pessoal de Manuel Alegre).
c) Identificação da mensagem que o autor pretende
veicular
Este poema tem 11 quadras com
rimas cruzadas. Neste poema, o sujeito poético fala da sua emigração e do
consequente afastamento de Portugal. O sujeito poético está em Paris e enumera diferentes
etapas importantes da História de Portugal.
O poeta quer talvez veicular como mensagem o facto de ter emigrado tantas
vezes que chega a comparar cada viagem feita por si às navegações de Fernão
Mendes Pinto. “Eu que fui descobrir e nunca descobri / que o porto por achar
ficava em Portugal.” Após todas estas viagens dá-se conta que o único destino
onde quer chegar é Portugal.
d) Identificação das características da emigração
portuguesa
As características da emigração portuguesa neste poema são próprias de uma emigração forçada, para fugir das autoridades políticas e do regime ditatorial que controlava o país e punia aqueles que discordavam dele. Assim todos os que se sentiam em perigo de serem apanhadas pela PIDE, emigravam para outros países, a maioria não conhecia nada nem ninguém o que provocava nos emigrantes um isolamento dessas pessoas e uma profunda saudade do seu país de origem.
As características da emigração portuguesa neste poema são próprias de uma emigração forçada, para fugir das autoridades políticas e do regime ditatorial que controlava o país e punia aqueles que discordavam dele. Assim todos os que se sentiam em perigo de serem apanhadas pela PIDE, emigravam para outros países, a maioria não conhecia nada nem ninguém o que provocava nos emigrantes um isolamento dessas pessoas e uma profunda saudade do seu país de origem.
e) Identificação da atualidade da mensagem
Atualmente continua haver pessoas que emigram de barco para fugirem dos seus
países como os refugiados sírios por motivos políticos e bélicos. O poema
mantem a sua atualidade, não para a emigração portuguesa, mas sim para a
emigração oriunda de outros países como mostrámos ao referir o exemplo da
emigração síria.
g) Escolher uma imagem caracterizadora da obra, da
sua mensagem, da emigração
h) Elaborar 2 questões sobre
a obra, baseadas no conteúdo do cartaz.
1 - O sujeito poético está em Paris?
2 - O sujeito poético refere aspetos da História de Portugal?
1 - O sujeito poético está em Paris?
2 - O sujeito poético refere aspetos da História de Portugal?
PR & RS
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